Sentadas à mesa, degustando saboroso café, a mulher com olhos de um intenso azul sorri para mim e, com a simplicidade das grandes pessoas, conta-me a sua história. Agora estou emaranhada no arvoredo das suas serras, no encanto do semblante dos seus animais e no sorriso das crianças e idosos que tem apoiado. É como ela diz, há quem se insurja por protegermos os animais, dizendo ser em detrimento dos humanos, mas quem tem este carácter, este perfil, pretende ajudar os que não têm voz, os que são votados às injustiças do mundo. Humanos e animais são seres que necessitam de proteção e, quando não a têm, alguém precisa de lutar por eles.
Nascida no Porto, que continua a adorar, assume-se como sendo do Fundão, terra onde podia admirar a Estrela e a Gardunha. A sua avó materna, que vivia no Sabugal, era apaixonada por animais, especialmente por cães. A primeira memória de Cristina é a do dia de comemoração dos seus quatro anos, em que os seus avós maternos rumaram ao Fundão, com os seus dois cães, para que estes fossem à festa. Que bela lembrança!
Vida fora, outros houve mais malandros, que chegaram a roer-lhe os sapatinhos novos. Mas como não desculpar?
Todos os irmãos Chau têm uma dedicação ímpar aos animais e uma das irmãs, quando pequenina, até guardava as lagartinhas da fruta numa caixa de fósforos, bem escondida, alimentando-as convenientemente.
Aos catorze anos, Cristina começa a fazer voluntariado com uma idosa e aí nasceu uma das suas outras vertentes, a proteção dos que já têm a voz fraquinha…
Fazendo parte das Guias, uma das dimensões femininas dos Escuteiros, depois do Clube dos Cinco, Tim incluído, esta mulher foi canalizando a sua grande energia para a melhoria da vida de outros seres, com um retorno em afeto e, por vezes, em mágoa, que a faz continuar na mesma direção, a do bem, a do bem estar, humano e animal.
Foi o seu fantástico acampamento de barro, em miniatura, bem como as roupinhas para bonecas, que vendia, tudo cosido à mão, até obter um prémio com o seu maninho a desfilar de Bobo da Corte, obra com a qual ganhou uma máquina de costura, de seus pais, que a alertou para o seu potencial artístico. Ingressou no IADE, em Lisboa, no Curso de Design Gráfico, de Interiores e Equipamento. Foi uma excelente aluna que, ironia do destino, sem querer seguir a via de ensino, se tornou Professora de Educação Visual, tendo escolhido a Lousã, serra incluída, para proporcionar ao seu filho Manuel, a mesma qualidade de vida, com ar livre e paz, que vivenciou no Fundão.
Nesta vila, tem concretizado várias ações solidárias, com os alunos e comunidade, sobre os idosos, os sem-abrigo, o bem estar animal… A das crianças de Cabo Delgado, foi a mais recente. E não vai parar!
Bem hajas, cidadã!
Maria Laranjeira
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