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Glaciares

Ivone Fachada

Sabia que às grandes massas de gelo em movimento que existem no planeta se chamam glaciares? Ocorrem apenas em zonas de baixas latitudes (como os pólos) ou em zonas de altas altitudes (como algumas regiões montanhosas). Os glaciares cobrem cerca de 10% da superfície terrestre e têm mais de 75% do total da água doce existente no mundo. Formam-se porque há uma acumulação, compactação e recristalização da neve. À medida que a neve cai e se torna cada vez mais compacta, pela acumulação em sucessivas camadas, forma-se uma enorme massa de gelo em movimento (este movimento é devido à força exercida pela gravidade).

Podemos classificar os glaciares em quatro grandes grupos: em primeiro lugar, o Glaciar Alpino ou de Vale, que se caracteriza por ter uma “língua” glaciar que desliza por um vale em forma de U; em segundo lugar o Glaciar Pirenaico, Suspenso ou de Circo, que se caracteriza por depressões circulares acumuladoras de neve (não têm língua glaciar) e que, com as alterações de temperatura, podem originar lagos – o Lago da Sanábria (Zamora, Espanha) aqui bem perto de Bragança é um exemplo claro de um Glaciar Pirenaico.

Em terceiro, as Calotas Polares ou Inlandesis, que podem originar icebergues sempre que, na sua periferia, houver uma grande inclinação que provoque um desprendimento de parte do gelo e estes fiquem a flutuar no oceano. As duas maiores calotas polares do planeta encontram-se na Gronelândia e na Antártida. Nesta última, a espessura média do gelo pode chegar a ter 4 mil metros. E, por último, ocorrem os Fiordes, cuja língua glaciária causa erosão na superfície até a uma cota inferior ao nível da água do mar. Os fiordes são muito comuns na Noruega, Gronelândia e no sul do Chile.

Vale Glaciar de Manteigas – Fotografia de Clotilde Nogueira – CCV Bragança

Atualmente, em Portugal Continental não existem glaciares, mas encontram-se vestígios da sua presença na serra da Estrela, na serra da Peneda e na serra do Gerês. Comprovamos assim que existiram épocas, nos últimos milhares de anos, em que o clima foi mais frio do que atualmente.

No verão de 2012 surgiu a notícia que, na Gronelândia, houve um degelo acentuado da calota polar, que desapareceu 97% em 4 dias. Mas, como ocorreu este fenómeno? Há uma condição fundamental para que os glaciares se mantenham sólidos e permanentes: a queda de neve no inverno seja superior à quantidade que derrete no verão, para que se acumule gelo, ano após ano. Em condições consideradas normais, o gelo derrete cerca de 50% todos os verões, no entanto, no ano de 2012, ocorreu um acontecimento climático excecional. Segundo o climatólogo Thomas Mote, da Universidade de Georgia, uma vaga de ar quente, particularmente forte, ou uma cúpula de calor, cobriu a Gronelândia entre oito e 16 de julho.

Sabe-se que no passado, há cerca de 20 mil anos, a neve e o gelo cobriam cerca de três vezes mais da superfície do planeta do que na atualidade. Muito se tem discutido no seio da comunidade científica quais os fatores que conduziram a estas alterações da geografia terrestre e do clima, sendo que a própria dinâmica da Terra (vulcanismo, geometria dos continentes e oceanos), os fenómenos astronómicos e as alterações climáticas, não podem ser dissociadas destas variações do clima, quaisquer que sejam as suas origens.

Texto escrito por Ivone Fachada no âmbito do projeto Ciência@Bragança (http://cienciabraganca.ipb.pt/) e agora disponibilizado para o projeto “Cultura, Ciência e Tecnologia” da Associação Portuguesa de Imprensa

Ivone Fachada: Diretora Executiva do Centro Ciência Viva de Bragança. Pós-graduação em História da Ciência e Educação em Ciências pela Universidade de Aveiro e Universidade de Coimbra (frequência de um doutoramento interdisciplinar). Mestre em Gestão e Conservação da Natureza pela Universidade dos Açores. Licenciada em Engenharia Florestal pelo Instituto Politécnico de Bragança. Membro da ScicomPt – National Science Communicators Network, fazendo parte da Direcção desta Associação entre outubro de 2017 e maio de 2020. Formadora de professores, credenciada pelo Conselho Científico e Pedagógico de Educação Continuada nos domínios: “A64- Ciências Ambientais” e “D08 – Educação Ambiental”. Autor ou co-autor de mais de trinta artigos em jornais, conferências e capítulos de livros.

Tags: API | APimprensa
Autor: Jornal Trevim

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