Decorria a década de 50 do século transato, quando nós estávamos aprendendo a viver e a reconhecer entre os demais os homens de bom senso da nossa terra. Pedro Lopes Kéko, depressa nos apercebemos, tinha toda essa virtude, uma idiossincrasia certamente sugada nos primeiros segundos de vida do cordão umbilical, já que sua mãe, Maria do Carmo, senhora natural do lugar do Freixo, era dona também desses atributos.
A família, vivia então na Rua Eng.º Duarte Pacheco, onde a vida industrial fervilhava e a gente ia tomando as verdadeiras noções do quotidiano, em forma de prestimosas lições de vida!…
A funerária de seu pai, José Lopes Kéko (Marcenaria Brasil), ficava ligeiramente ao lado da moradia. O “esquife”, último manto do pobre, era feito artesanalmente naquela restrita oficina, enquanto o trabalho maquinal se realizava noutro lado, nos Carpinteiros Reunidos ou na Carpintaria Moderna. Dois filhos e dois empregados assumiam essa tarefa, que se expandia também ao mobiliário, uma vulgaridade na época. O Pedro levou ali, naquele espaço, o primeiro adestramento do ofício. Seu pai (rigoroso como eram os homens desse tempo) exigia dele mestria e algum retraimento. Mas havia ainda o lado materno, a chamada “Bandeira da Misericórdia”, uma miscelânea que fez do filho uma excelente criatura.
As coisas iam acontecendo, naturalmente comprimidas no vicissitudinário do tempo. Apesar da rigorosidade paterna, este rapaz tinha sempre um sorriso aberto para o esforço de cada dia. Como entretenimento ou diversão, defendeu as cores do Desportivo Lousanense. Foram anos de futebol, que certamente lhe serviram como fuga à lugubridade profissional, bem expressa nas tristezas e aflições do nosso povo.
Neste ponto – urge dizer – que os defuntos eram então transportados nas chamadas carretas, veículos puxados manualmente por homens como Mário e Augusto Carolo, figuras populares desse funcional e lúgubre proscénio, pesarosamente nosso…
Em circunspeção com a vida, Pedro Kéko jamais assumiu qualquer forma conjugal, daí não deixar descendentes que possam vincular suas raízes, todavia o seu nome fica-nos perenemente na memória. Nasceu na Lousã no ano de 1938 e aqui faleceu a 8 de janeiro de 2006, após 68 anos, praticamente vinculados com o chamado obituário…
Nota: O rolar da carreta (transporte hoje em desuso) era silenciado pela borracha maciça, que revestia os seus rodados.
Carlos Ramalheiro
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