A venda das propriedades que a ARCIL possui na Serra da Lousã, nas duas Silveiras, não foi ainda concretizada, um ano após a assembleia geral ter aprovado a sua alienação a uma empresa turística por 301 mil euros
A venda de 117 artigos localizados na Silveira de Baixo e na Silveira de Cima à empresa de turismo Colquida, que ali pretende criar um polo tecnológico, não foi ainda concretizada, disse ao Trevim o presidente da direção da ARCIL, Nelson Tiago.
Há um ano, em assembleia geral, os sócios desta instituição particular de solidariedade social da Lousã decidiram alienar esses imóveis, maioritariamente rústicos, por 301 mil euros àquela firma com sede na Cerdeira, na Serra da Lousã.
Segundo Nelson Tiago, o atraso na consumação do negócio “deve-se a aspetos burocráticos necessários para a formalização da escritura, para o qual muito contribuíram, também, as limitações provocadas pelo ano atípico que vivemos”, com a pandemia da covid-19.
Por proposta da direção da ARCIL, a venda das propriedades à empresa de turismo rural foi aprovada pela assembleia em dezembro de 2019.
Um ano depois, a escritura não foi efetuada, mas, de acordo com Nelson Tiago, “as partes mantêm o interesse na concretização do negócio o mais breve possível”.
No plano plurianual de investimentos do município da Lousã, aprovado pela Assembleia Municipal (AM), no dia 10 de dezembro, o referido polo tecnológico é mencionado como projeto “Vale do Xisto – Aldeia Serrana da Silveira”.
O Trevim solicitou o projeto à Câmara, a fim de obter mais detalhes, porém, numa resposta escrita, a autarquia afirma que o projeto “é de iniciativa privada”, tendo optado por não o disponibilizar.
Promotor privado quer atrair empresas à serra
O envolvimento da autarquia “será sempre em apoio institucional e investimento nas infraestruturas públicas”, acrescentou a mesma fonte do gabinete do presidente do executivo, Luís Antunes, sem revelar, contudo, o valor do investimento e explicando que o processo “não está finalizado”.
José Serra, principal rosto da unidade hoteleira “Cerdeira Village”, criada pela Colquida na Cerdeira, em 2012, também não facultou o projeto ao Trevim e indicou que é intenção da empresa instalar na Silveira “uma comunidade tecnológica que possa partilhar as suas experiências e conhecimentos, sendo também um centro de inovação e de aprendizagem de convivência com a natureza e a serra”.
O empreendimento, segundo o empresário, tem como “desafio atrair empresas a criarem equipas de desenvolvimento na Lousã, criando oportunidades de emprego qualificado”.
Na última reunião da AM da Lousã, já os deputados Aires Ventura (BE) e Ana Paula Sançana (PSD) tinham questionado Luís Antunes sobre o “Vale do Xisto – Aldeia Serrana da Silveira”, pedindo esclarecimentos sobre a participação do município no empreendimento.
Afirmando que “existem centenas de proprietários na Silveira que têm pequenas parcelas de terrenos”, o autarca do Bloco perguntou se “foram todas vendidas ou se ainda existem muitas fora desta área de investimento”.
Quis igualmente saber se está ou não prevista a abertura de uma estrada, entre a Cerdeira e a Silveira, “para proteção das populações da serra e auxílio no combate a incêndios”, como tem sido defendido pelo seu partido.
Câmara apoia projeto de “médio e longo prazo”
Luís Antunes disse ser um projeto “a médio e longo prazo, de promotores privados, relacionado com novas tecnologias”.
O projeto “será desenvolvido nas áreas detidas pelo promotor”, adiantou o presidente da Câmara, que desconhece “em concreto a propriedade que este detém”.
Quanto à construção da estrada entre aqueles lugares, que fazem parte da rede Aldeias do Xisto, a iniciativa de José Serra “poderá ajudar a essa perspetiva”, enquanto “desígnio que tem vindo a ser verificado” pela autarquia.
Uma nova família reside há uma década na Silveira de Cima, mais precisamente no sítio do Salgueiro.
A capela comum, em honra de São Lourenço, está situada na Silveira de Baixo e foi recuperada em 2016 por antigos moradores, familiares e outros doadores, públicos e privados, no âmbito de uma campanha apoiada durante meses pelo Trevim.
Em 2012, uma lista de projetos privados daquela rede turística, divulgada pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, a apoiar pelo programa PROVERE, incluía um empreendimento designado “Recuperação aldeias serranas Silveira de Cima e Silveira de Baixo e posterior rentabilização na área do turismo de montanha”, uma iniciativa da ARCIL, com um investimento elegível de um milhão de euros, que não chegou a ser concretizada.
Em 2011, na obra “Turismo e desenvolvimento – Estudos de caso do Centro de Portugal”, o lousanense Paulo Carvalho, professor da Universidade de Coimbra, confirmava que o casal das Silveiras, propriedade comunitária, tem uma área de 200 hectares, equivalente a 200 campos de futebol.
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