Atividade apícola em dificuldades desde 2017. Produtores mal conseguem pagar despesas
A produção de Mel da Serra da Lousã DOP sofreu este ano uma quebra superior a 80%, percentagem idêntica às registadas dos últimos dois anos.
Segundo informou ao Trevim, Ana Paula Sançana, diretora executiva da Cooperativa Lousamel, este cenário estende-se a todo o território nacional, estando os produtores “sem conseguir obter receitas suficientes para cobrir sequer as despesas de manutenção e maneio do seu efetivo apícola”. A ausência da produção de mel, “associada à contínua e elevada predação da vespa asiática estão a dificultar a vida e a desmotivar os apicultores”, acrescentou. O impacto da espécie invasora provocou uma quebra média de 20% no efetivo dos produtores da Lousamel, de acordo com as declarações de existências apícolas realizadas em setembro, contudo, os cerca de 500 cooperantes da associação somam atualmente um total de 12.900 colónias.
Este ano, explica, ainda não existem dados concretos quanto às toneladas de mel produzidas, uma vez que se encontra a decorrer o processo de certificação mas, a perspetiva, é de que “mesmo que seja todo certificado como DOP” registe uma quebra na “muito acentuada”.
Com a vespa asiática “perderam-se muitos enxames e, até hoje, não se encontrou saídas para o problema”.
Continuando a haver “esta pressão predatória sobre as abelhas”, Paula Sançana acredita que “grande parte dos produtores desistam da sua atividade”. Embora coloquem armadilhas “de forma a tentar capturar o máximo de vespas fundadoras”, além de “ser economicamente difícil de comportar”, do ponto de vista emocional, “é uma situação complicada de gerir, pelo afecto e carinho que nutrem pelas abelhas”.
Para a diretora executiva da Lousamel, “é extremamente importante criar mais mecanismos concertados, para estudar esta espécie”.
Alterações climáticas e “falta de aposta em espécies autóctones”
Para além da vespa asiática, considera, a reduzida produção de mel deve-se também às alterações climáticas, que “estão a acontecer de uma forma muito mais rápida do que o poder de adaptação dos organismos”, e neste contexto, as abelhas “têm os seus ciclos biológicos desfasados das plantas, o que leva a que quando o néctar está disponível, os insectos ainda não estão preparados para o colher”. Também “as altas temperaturas que se fizeram sentir, acabaram por fazer com que as flores secassem, não providenciando o néctar suficiente”. Os incêndios florestais que ocorreram em 2017, “ainda hoje têm uma forte repercussão na produção de mel e nos seus encargos, dado que a quantidade de flora disponível paras as abelhas diminuiu abruptamente e ainda não foi de todo reposta”.
No que respeita ao ordenamento do território a responsável reforça que “continuam a existir desequilíbrios notórios do ponto de vista da ocupação do solo que, podem beneficiar alguns sectores da sociedade a curto prazo mas, a médio e longo prazo, trarão grandes dissabores e também uma perturbação irreversível dos ecossistemas”.
500 armadilhas no concelho
Em comunicado, a Câmara Municipal da Lousã CML anunciou a colocação de 550 armadilhas para captura da vespa velutina, processo realizado em setembro e outubro e também em março e maio. Entre julho e setembro, segundo a autarquia, foram identificados 62 ninhos da espécie invasora no concelho.
A CML salienta que apela em caso de avistamento de ninhos, que sejam contactados os Bombeiros Municipais da Lousã – 239990530, Bombeiros Voluntários de Serpins – 239970000, GNR – 239990060 ou o Serviço Veterinário Municipal – 916998776.
Feira do Mel e da Castanha com formato diferente
Segundo anunciou Luís Antunes, presidente da Câmara, em declarações comunicação social, durante a cerimónia de consignação da empreitada de saneamento em duas freguesias do concelho, a Feira do Mel e da Castanha regressará em 2021 “com o modelo que tem tido e a qualidade e reconhecimento que granjeou”. Este ano, caso a situação de pandemia “permita”, a autarquia prevê realizar “algumas iniciativas que permitam potenciar os produtos endógenos característicos da região e desta altura do ano, em modelo mais reduzido”. O programa do evento está ainda a ser elaborado pelo que contamos dar mais detalhes numa próxima edição.
Executivo aprova apoios à apicultura
A Câmara Municipal aprovou na reunião de dia 19, comparticipar o equivalente a 50% da despesa do processo de certificação – até ao valor de 50€ por apicultor – exclusivo aos apicultores do concelho da Lousã e sócios da Cooperativa Lousãmel que procedam à certificação.
Num “ano especialmente difícil para esta atividade” a Câmara aprovou também atribuir 2.500 euros à Lousãmel “para aquisição e distribuição de alimentos para as abelhas”.
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