Desde há muitos anos que o São João é festejado na nossa terra, a Lousã. Primeiro na praça da Igreja, depois em várias zonas da Lousã, nomeadamente na Avenida do Brasil que, na década de 1950, se engalanou com diversos aspetos, dos quais se viam os concertos de bandas, carrosséis, tendas de material de barro proveniente do Minho, bares, filarmónicas, recintos de dança, etc.
Esta novidade foi coordenada pelo Capitão Carranca, então vereador da Câmara Municipal, avô do professor Carlos Carranca, a quem homenageamos sentimentalmente, nesta sua terra adotiva.
À noite, na véspera de São João, cantava-se a marcha dos Joões, que percorria as ruas da feira e era constituída por Joões de arcos e balões, apenas com um suporte e balão e, atrás, os músicos, que deviam ser Joões, abrilhantavam a marcha, através das ruas da vila, com o seguinte texto:
Rapazes foliões e airosas raparigas
Olhai os nossos Joões
encolhendo as barrigas
Se a gente logo ao jantar, apanhar um pifão
Não é nada de estranhar, é noite de São João
Vamos para a frente nesta marcha de balões,
Mostrar a toda a gente,
Quanto valem os Joões
Pois neste dia cheiinhos de animação
Vamos nós com alegria, festejar o São João
Não consigo esquecer que, quando estava no colégio de Tomar, bem como o falecido professor João Ramos também, na noite de São João de 1961, pegámos no balão e fizemos uma pequena marcha nas ruas de Tomar, abrilhantada pela marcha dos Joões da Lousã.
Mais tarde, por volta de 1980, os Joões ensaiaram e apresentaram uma nova marcha, com letra de Jorge Cortez, e música de João Poiares Malta. Após as marchas, os Joões deslocavam-se para o restaurante de um João, onde ceavam e se divertiam com música alusiva àquela noite.
Nesse dia de manhã, dia de São João, alguns lousanenses subiam às Ermidas, nomeadamente às de São João, onde as meninas casadoiras iam pedir a São João que as ajudasse nas suas orações. Depois, era vulgar nas festas dos Santos Populares, o povo da serra, não obstante as limitações de vária ordem, era alegre, esquecendo, durante as festas, algumas amarguras da sua vivência.
Os bailes, efetuados na Eira comunitária, nomeadamente no Casal Novo, juntavam tocadores de concertina, alguns vindos de outras aldeias. Da vila, normalmente atrás do Cruzeiro, com respetivo farnel, partiam pequenos ranchos, calcorreando caminhos difíceis de percorrer, com vista a participarem no bailarico e conviverem com gente simples da serra, mas também da vila, os amigos não se fizeram rogados. Irreverentes mas respeitadores, dançavam o vira, o fado mandado, a farrapeira, o verde gaio e outras modas em que cantadores e cantadeiras se desafiavam mutuamente, quer com versos improvisados, quer com quadras alusivas a diversos aspetos, nomeadamente à emigração, como exemplo:
O meu amor não está cá
Quem me dera agora vê-lo
Eu hei de ir para o Brasil
Nas ondas do teu cabelo.
João Poiares da Silva, cofundador do Trevim
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