O comboio e o caminho-de-ferro como símbolo da identidade de um povo foi um ponto chave do debate que se seguiu à inauguração da mostra e de apresentação do catálogo “Cartunes pelo Ramal”. Os intervenientes defenderam que o comboio é um bem coletivo que muitos apreciam, mas que poucos reivindicam, associando-se às iniciativas que têm sido promovidas nomeadamente pelos movimentos de defesa do Ramal da Lousã.
“É preciso que quem acredita na necessidade do comboio tenha intuição e consciência do que tem de fazer para o conseguir”, referiu o cartunista Zé Oliveira, frisando que, em seu entendimento, “o poder está na base e não na cúpula”. “É enternecedor como um educador como Eugénio Amaro se deu ao trabalho artesanal de criar uma locomotiva. Isto só sucede porque o comboio da Lousã une a sociedade. Não é só uma necessidade, é uma identidade”, frisou, num discurso apaixonado, em que confessou considerar o metro “um disparate completo” numa linha ferroviária de montanha.
“Dizer que o poder está na cúpula e não na base é ‘31 de boca’, se não as coisas correriam de maneira diferente”, referiu, por seu lado, Pedro Malta, atual diretor do Trevim que tem defendido o Ramal da Lousã desde sempre, através do jornal. “Todo este processo do ramal tem sempre tido negócios por trás”, frisou, destacando que, historicamente sempre que havia algum problema do comboio em Coimbra, vinham os jornais falar depreciativamente do ramal da Lousã, porque havia interesse em urbanizar a zona de passagem da linha férrea.
Apelo à participação
O jornalista e antigo diretor do Trevim Casimiro Simões demarcou-se de quem, na região e em mais de duas décadas, tem votado em autarcas que defenderam o arranque dos carris da linha centenária, em 2009, os quais têm preconizado outras soluções para o Ramal da Lousã. “Não estou tão certo que quem decidiu o metro tenha traído a população. As pessoas só são apunhaladas nas costas se adormecerem”, disse com ironia, lembrando que “andamos há mais de 22 anos nesta mentira”. Orlando Reis, do Movimento de Defesa do Ramal da Lousã e colaborador do Trevim, afirmou que a aceitação por parte dos responsáveis municipais da solução “metrobus” apresentada em junho pelo ministro das Infraestruturas, Pedro Marques, é já uma “segunda ou terceira traição dos autarcas aos interesses da região”.
“Pequena ou grandes as lutas têm sido realizadas e a petição promovida pelo jornal é perfeitamente clara da vontade das populações, tendo sido apoiada por mais de 8 mil pessoas”, sublinhou. “Se para o ano cada uma das pessoas que aqui está trouxer alguém seremos o dobro”, rematou Celeste Garção, do movimento Lousã pelo Ramal e da CooperativaTrevim, fechando o debate que moderou, no auditório do Museu Prof. Álvaro Viana de Lemos.
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