José Oliveira
As empresas de elevada envergadura assumem, frequentemente, a arrogância da intocabilidade. Para isso, criam filtros de dificultação de acesso à informação, montam gabinetes de comunicação cuja função é “descomunicar”, falam mais facilmente para as TVs do que para os jornais, conhecedores de que a palavra por via televisiva é mais efémera e menos aprofundada do que por via impressa; e é mais penetrante (e menos contraditada), deixando o rasto do que se quis dizer, dito por profissional especialista em afirmar o que convém, “desafirmando” o que não interessa, num papel de ‘voz do dono’ que amplifica aquilo que ao dono convém, seja verdade ou falsa verdade.
Esta gente cronometra as realidades ao minuto, numa retórica tão eficaz, tão hipnótica, que até é capaz de nos colocar a mastigar uma batata convencendo-nos de que se trata de uma saborosa maçã.
No ‘Sexta às Nove’ (RTP), o porta-voz da operadora eléctrica afirma que o incêndio do Prilhão foi detectado 12 minutos depois do momento de queda da árvore que se terá incendiado. Mas não se percebe onde está a incongruência; um eucalipto ter-se-á aproximado dos cabos de uma linha de Média Tensão, pegando fogo. Mas a EDP alega, ilibando-se, que o incêndio no local só terá sido detectado 12 minutos depois. Portanto, as horas não batem certo. Esta agora!! Então, o porta-voz da empresa eléctrica quer fazer-nos acreditar que um incêndio é sempre detectado nos primeiros segundos da sua ignição?!… Não podem demorar 12 minutos desde a primeira incandescência até à sua dimensão detectável?
Vários populares declararam ter ouvido um barulho como uma bomba pouco antes do início do fogo. Vejamos: as linhas de electricidade estão equipadas com dispositivos que, se no âmbito doméstico, se denominam disjuntores, interrompendo a passagem de energia quando surge alguma anomalia. Nas linhas de Alta ou Média Tensão aplica-se o mesmo princípio, utilizando sistemas de proteção que asseguram não só corte mas também a religação automática após um defeito. E, neste caso, quando o dispositivo de proteção interrompe o circuito, ele ‘estoira’ nos termos que os populares da zona do Prilhão descreveram: produz “um barulho como uma bomba”. Branco é…
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